Os dias em que a WWE se rendeu ao cinema

Este ano, sem dúvida alguma está sendo totalmente atípico no cenário do pro-wrestling, uma vez que com a infeliz pandemia do coronavírus, muitos eventos precisaram ser cancelados ou impedirem a presença de espectadores, quando realizados. Na semana da WrestleMania isso não foi diferente e a empresa de Vince McMahon teve que se virar nos trinta para conseguir entregar o seu maior evento do ano.

Pensando na hipótese de duas noites de show, sem público, em seu maior show do ano, a empresa precisaria de alguma forma mostrar que algo diferente aconteceria, ainda que fosse uma aposta muito alta, podendo ter como resultado um belo tiro no pé. Entretanto, com uma situação completamente diferente do que foi visto até hoje, valeria a pena correr o risco, pois pelo menos, de alguma forma, a atenção dos fãs poderia ser preenchida.

Nas duas semanas finais, que antecederam ao evento, a WWE anunciou duas estipulações especiais para dois de seus principais combates, de suas duas noites. A luta entre The Undertaker e AJ Styles foi anunciada como uma Boneyard Match, enquanto John Cena contra Bray Wyatt, foi transformada em uma Firefly Fun House Match. Logo de momento, sites estrangeiros anunciaram que estes dois combates envolveriam super produções, ao estilo de cinema, sendo algo diferente de tudo o que foi visto até hoje.

Começando pela Boneyard Match, que foi realizada na primeira noite, a trama realizada foi uma das melhores de sempre. Pois, com uma produção digna de Hollywood, como era de se esperar, AJ Styles e um “American Badass” Undertaker protagonizaram uma guerra a nível pessoal, em um cemitério obscuro, com direito até a presença de druidas.

Para quem achava que os efeitos especiais estragariam o encanto de uma rivalidade puramente pessoal entre os dois, felizmente se enganou. Ambos protagonizaram grandes contatos físicos e bate bocas que não perderam em nenhum momento a essência da rivalidade. Percebia-se um nível de profissionalismo incrível de todos os envolvidos na luta, incluindo a equipe de produção. Por fim, Undertaker venceu, fechando com chave de ouro a primeira noite do Showcase of Immortals.

A segunda super produção foi ainda mais surpreendente, pois o que vimos não foi bem um combate entre John Cena e Bray Wyatt, mas sim, um confronto entre Cena e sua mente. A forma utilizada pela empresa de mostrar que The Fiend entrou na cabeça de Cena, mostrando que em todas as etapas de sua carreira ele falhou, não sendo o super herói que muitos fãs lhe rotulam, foi simplesmente épica. Cena participou da WrestleMania sem correr riscos de sofrer uma lesão sequer, algo que lhe traria problemas na carreira em Hollywood, caso ocorresse.

Em um show de vídeos especiais, passando por praticamente todas as épocas da empresa, desde a Ruthless Agression, Fiend saiu-se vitorioso, mostrando que apesar da derrota para Goldberg, seu personagem tem muita relevância na empresa, ainda.

Agora, sem levar em conta vencedores ou resultados de storyline daqui pra frente, o legado que a WWE deixa após esta WrestleMania, é que é possível trabalhar o seu produto de formas diferentes, o que pode abrir bons precedentes para acontecimentos futuros. Se o pro-wrestling é algo relacionado ao entretenimento, não necessariamente um ringue precisa estar envolvido, ainda que pareça essencial quando se usa o termo luta livre.

Obviamente ninguém fica contente com uma pandemia e uma crise pública que está matando milhares de pessoas, porém, como velhas personalidades já afirmaram um dia: “São em momentos de crise que surgem grandes oportunidades.”

A WWE mostrou que nos dias 04 e 05 de abril de 2020, finalmente se rendeu ao cinema e abriu um grande leque de oportunidades para futuros acontecimentos, de modo, que o pro-wrestling, pelo menos dentro da empresa, nunca mais será o mesmo. Resta saber se isso será bom ou ruim.