O retorno de Bret Hart à WWE em 2010 segue como um dos capítulos mais comentados da história recente da empresa. O que pouca gente sabia é que a motivação para essa volta surgiu ao assistir a uma participação improvável fora do universo tradicional da luta livre.
Em entrevista ao Inside the Ropes, Hart contou que a ideia começou após ver Donald Trump em ação durante a WrestleMania. A forma como Trump participou do segmento chamou a atenção do canadense, não pelo espetáculo, mas pelo cuidado físico envolvido.
Hart vinha lidando com um histórico sério de concussões. Ao observar aquela interação, percebeu que seria possível construir algo seguro, sem quedas de impacto ou golpes na cabeça, respeitando seus limites.
“Eu lembro de assistir à WrestleMania — não lembro que ano foi — mas era Vince lutando contra o bom e velho Donald Trump. Lembro de assistir e pensar: ‘Eu consigo fazer isso’. E a próxima coisa que percebi foi que as engrenagens começaram a girar.”
Na época, Hart morava no Havaí e estava longe dos ringues. Mesmo assim, entrou em contato com Kevin Dunn para levar a ideia adiante. O plano era simples: repetir uma dinâmica parecida com a usada por Vince McMahon, onde o risco físico fosse mínimo.
“Eu disse: ‘Sim, gostaria de falar com Vince sobre talvez fazer uma storyline e voltar. Acabei de vê-lo lutar com Donald Trump ontem. Talvez eu pudesse lutar com ele’. Eu disse a Vince: ‘Donald Trump nunca sofreu nenhum bump — nem um sequer. Posso cair de joelhos. Posso cair de barriga. Só não posso cair para trás. Não posso levar golpes na cabeça. Mas posso fazer algo. Posso te dar uma surra, com certeza’.”
Depois da conversa inicial, o projeto ficou parado por meses. Hart e Vince chegaram a se encontrar em São Francisco, em julho, mas nada avançou naquele momento. A ligação decisiva só veio em dezembro, com a exigência de que tudo começasse já no RAW seguinte.
“No meio de dezembro, eles finalmente ligaram e disseram: ‘Está valendo, e temos que fazer isso na próxima segunda-feira no RAW — caso contrário, não podemos fazer’. Eu não tive preparação e nenhuma ideia de que isso aconteceria. Eu tinha lançado a ideia e ela não deu em nada. Então, de repente, eu estava indo para o RAW. Eu fui lá, fiz toda aquela coisa com Shawn [Michaels] e fiquei realmente feliz em fazer isso.”
A relação entre a WWE e Donald Trump segue gerando debates até hoje. Para alguns talentos, aquela participação acabou influenciando decisões criativas importantes. Para outros, a proximidade com o político se tornou um ponto de afastamento.
Mick Foley, por exemplo, anunciou recentemente que não pretende renovar seu contrato de lenda com a empresa. Segundo ele, comentários de Trump sobre a morte de Rob Reiner foram o fator final para essa decisão.
A atual gestão da WWE mantém conexões visíveis com o meio político. Linda McMahon ocupa um cargo no governo, e Triple H já fez visitas oficiais à Casa Branca. Ainda assim, no caso de Bret Hart, tudo começou de forma bem mais simples: uma observação atenta durante uma WrestleMania.
Essa decisão acabou levando a momentos importantes em 2010, como a conquista do United States Championship e a No Holds Barred Match contra Vince McMahon na WrestleMania 26. Um retorno que nasceu de cautela, timing e de uma ideia improvável que, no fim, saiu do papel e entrou para a história.
Fonte: Inside the Ropes