Apesar de vivermos em um mundo cheio de narrativas e teorias da conspiração, onde a mentira costuma ser o centro de tudo, nunca desejei tanto que John Cena estivesse enganando a todos. Queria acreditar que, no dia 13 de dezembro, em Washington, talvez após o seu último combate contra Gunther, ele revelaria que a turnê de despedida da WWE não passava de uma grande brincadeira — e que sua carreira seguiria por pelo menos mais um ano.
O combate contra AJ Styles no Crown Jewel, na manhã do último sábado, foi de encher os olhos. Além de duas lendas vivas entregarem um espetáculo de primeiro escalão, outros nomes de peso também foram homenageados, criando uma atmosfera simplesmente inesquecível na Austrália.
O ponto mais emocionante, sem dúvida, foi o Sister Abigail, seguido pelos vagalumes de Bray Wyatt iluminando a arena em Perth através dos celulares dos fãs. Naquele instante, parecia possível acreditar que nosso saudoso lutador poderia, de alguma forma, surgir no centro do ringue.
Em sua turnê de despedida — que em alguns momentos chegou a ser decepcionante — John Cena tem mostrado que não é preciso reinventar a roda ou apostar em extravagâncias para entregar um grande show. São os pequenos gestos, naturalmente grandiosos, que tornam cada apresentação inesquecível e fazem dos seus últimos dias na WWE algo especial.
Para mim, há também um lado pessoal. John Cena foi o primeiro lutador de pro-wrestling de quem me tornei fã. Recordo claramente de 2007, em uma lan house (para quem já passou dos 30, como eu), quando assisti por acaso, no YouTube, a famosa First Blood Match entre Cena e Kurt Angle, realizada em 2005, num episódio do RAW. Mesmo derrotado naquela noite, Cena entrou no Elimination Chamber daquele ano e conseguiu manter o WWE Championship ao vencer Angle, Shawn Michaels, Kane, Chris Masters e Carlito. Talvez por isso a despedida seja ainda mais difícil.
É claro que John Cena não está mentindo: ele realmente vai se aposentar. E, nesses tempos em que as empresas parecem ignorar seus próprios fãs — sem falar dos preços absurdos de ingressos e serviços de streaming —, e acreditam que apenas “loucuras” sustentam um bom espetáculo, a saída de Cena dos ringues marca o fim de uma era de sonhos. O que resta é a sensação de que entramos em um novo mundo, cheio de incertezas, assim como a vida real fora do universo do pro-wrestling.