Opinião: John Cena e escolhas de Triple H arruinaram a WWE WrestleMania 41

Com presença exagerada de celebridades, excesso de comerciais e decisões criativas questionáveis, a WrestleMania 41 evidencia uma WWE mais preocupada com exposição de marca do que com o clímax narrativo que consagrou o evento como o maior do wrestling mundial.

Opinião: John Cena e escolhas de Triple H arruinaram a WWE WrestleMania 41

A WrestleMania 41 (Noite 2) deixou em mim uma sensação dividida entre empolgação e frustração. A segunda noite do evento entregou combates com alto nível técnico, mas decisões criativas mal executadas comprometeram parte do espetáculo. A WWE continua insistindo em escolhas que limitam o potencial narrativo dos seus próprios talentos.

A abertura com IYO SKY, Bianca Belair e Rhea Ripley foi eletrizante do ponto de vista técnico, mas a ordem das entradas causou estranhamento. Campeã entrando primeiro não faz sentido — é uma inversão que diminui o peso simbólico do título. Apesar disso, o combate em si foi excelente. IYO mostrou inteligência ao vencer no momento certo, Bianca brilhou ao adotar de vez o papel de vilã, e Rhea confirmou sua posição como principal estrela da divisão. É, possivelmente, o melhor combate feminino de WrestleMania desde Charlotte x Rhea em 2020.

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A “Sin City Street Fight” divertiu, mas também evidenciou um problema antigo: o uso da violência sem propósito claro, algo que tradicionalmente vemos na AEW. Drew McIntyre sangrou as costas em uma luta que, no fim das contas, não serviu para evoluir seu personagem. A vitória limpa não muda isso. Damian Priest manteve sua imagem de lutador durão, mas faltou uma narrativa que valorizasse seu status de campeão. A luta teve impacto, mas pouca construção.

A Fatal 4-Way foi uma decisão acertada. O público respondeu bem a Dominik Mysterio, que finalmente foi posicionado como um anti-herói em vez de um covarde. Bron Breakker continua impressionando com sua presença física e explosão, mas perder o título tão cedo, sem uma trajetória mais sólida, levanta preocupações. Quando um cinturão muda de mãos sem construção, perde valor. Ainda assim, ver Dominik como campeão traz um ar novo. É uma aposta que, por ora, eu apoio.

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O segmento entre Randy Orton e Joe Hendry pareceu improvisado, o que faz sentido considerando o contexto. Funcionou como momento de entretenimento puro, com boa reação do público, mas sem relevância real para a continuidade das histórias. O segundo RKO serviu para reafirmar a hierarquia da casa, mas comprometeu a credibilidade de Hendry. Se a WWE pretende trabalhar com participações externas, precisa aprender a protegê-las pensando no futuro.

A luta entre Logan Paul e AJ Styles apenas confirmou uma preocupação antiga. Logan tem talento atlético inegável, mas depende demais de interferências e recursos repetitivos. O público já percebeu o truque da “luva de ferro”, e isso está se tornando cansativo. AJ fez o possível, mas ficou difícil manter o ritmo com um adversário que não entrega de forma consistente. O resultado foi um combate travado, que deixa a sensação de desperdício de oportunidade.

A volta de Becky Lynch trouxe relevância ao segmento de duplas femininas, mas também escancarou a falta de um plano real para os títulos da divisão. Becky como campeã rende manchete, mas ocupa um espaço que deveria ser usado para desenvolver novas estrelas. Se o reinado for longo, a divisão corre o risco de parar no tempo.

A aparição de Steve Austin, encarregado de anunciar o público, teve cara de fan service forçado. A colisão com a grade usando o quadriciclo, que quase atingiu uma torcedora, resume bem o problema: o que deveria ser um momento solene virou cena de programa de auditório. A WrestleMania, mais uma vez, apostou no espetáculo pelo espetáculo e entregou mais um meme do que um momento marcante.

No evento principal, o papel de John Cena como vilão ficou claro, mas a narrativa pareceu apressada, feita aparentemente apenas para garantir que Cena superasse Ric Flair em número de títulos. A luta funcionou muito bem do ponto de vista narrativo, mesmo que a execução dentro do ringue nem sempre tenha acompanhado esse nível. Cena provocou Cody a cruzar certos limites para vencer, mas Cody se recusou — e foi justamente isso que permitiu a Cena fazer o que era preciso para sair com a vitória. A realidade? Cody Rhodes, que vinha sendo construído como herói puro, termina enganado e desvalorizado. E sem The Rock para concluir a história que a própria empresa começou a contar, o desfecho fica pela metade. A vitória de Cena pode agradar pelo fator nostalgia, mas atrasa o processo de renovação no topo da empresa.

No geral, a WrestleMania 41 entregou ótimos momentos no ringue, mas foi prejudicada por escolhas criativas questionáveis e pelo excesso de marketing no meio do show. A WWE precisa decidir se seu maior evento do ano é o clímax das histórias ou uma vitrine de marcas. Enquanto não escolher, continuará oferecendo lutas de qualidade presas a narrativas rasas.

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Autor do artigo Patricki Chites
Tenho 26 anos e moro no Brasil. Sou fluente em inglês, jornalista e fã de wrestling há 15 anos. Fui responsável principal pela mudança do antigo House of Wrestling para Wrestling Notícias.